QUEM SÃO OS ANABATISTAS?
Por: Rev. Glauco Barreira M. Filho
Nos séculos II e III, após grandes
perseguições sofridas pelos cristãos, muitos que, não apenas haviam negado a
fé, mas delatado os irmãos e servido aos perseguidores, desejaram voltar para a
igreja. As igrejas acomodadas pela tranqüilidade gozada após a perseguição,
tendo perdido muito do seu zelo antigo, receberam esses apóstatas sem maiores
exigências. À época, algumas comunidades cristãs, principalmente da África,
afirmaram que o comportamento dos que haviam traído os irmãos evidenciava que
eles não eram discípulos verdadeiros. Como a fé e a conversão genuína eram
condições para o batismo nas águas, essas comunidades consideravam o anterior
batismo dos traidores da fé como inválido. Com isso, as comunidades zelosas
exigiam um novo batismo dessas pessoas, após demonstrado genuíno
arrependimento. Em razão dessa exigência, foram chamados de “anabatistas”
(rebatizadores). Para os anabatistas, todavia, não era o caso de batizar
novamente tais pessoas, mas de lhes dar um genuíno batismo, caso, de fato,
estivessem arrependidas e convertidas.
Naquelas circunstâncias, grande parte da
cristandade considerou o “anabatismo” como um movimento separatista. Convém,
entretanto, lembrar que os grandes mártires desse período estavam entre eles (como
foi o caso histórico das mártires Perpétua e Felicidade). Irineu, famoso pai da
igreja, embora não estivesse oficialmente em suas fileiras, defendeu os
anabatistas, reconhecendo-lhes o zelo pela Palavra. Já Tertuliano, o maior
mestre da igreja de então, ingressou na comunidade dos anabatistas e se tornou
seu grande apologista.
Para os anabatistas, eles não eram uma
ruptura, mas, sim, a continuidade linear e histórica da igreja apostólica.
Desde então, eles mantêm sua continuidade no tempo em sucessão ininterrupta. Os
anabatistas foram chamados de donatistas à época em que Constantino começou o
processo de institucionalização romana da cristandade. Foram eles que
resistiram à aliança entre a igreja e o império, sofrendo duramente por isso.
Na Idade Média, os anabatistas foram
conhecidos principalmente como paulicianos e valdenses. Hoje em dia, muitos
historiadores compreendem que os valdenses não podiam ser um grupo religioso
fundado por Pedro Valdo, pois o nome “valdense” aparece em documentos anteriores
ao nascimento de Pedro Valdo. Na verdade, Pedro deve ter sido chamado de
“Valdo” porque era valdense e não o contrário. O termo “valdense” vem de duas
palavras que foram unidas em contração: uma significa “vale” e a outra
significa “denso”. A expressão “valdense” referia-se aos lugares onde eles se
escondiam dos perseguidores.
Com a perseguição, os valdenses ficaram sem
seus líderes, pois eles foram martirizados. Para não deixarem de ouvir a
palavra de algum modo, compareciam às missas católicas a fim de ouvir a leitura
bíblica feita pelo padre. A frequência ao culto católico fez com que
abandonassem grande parte de suas características (entre elas, o batismo
adulto), mas alguns deles, com outros nomes (arnaldistas, bogomilos),
mantiveram acesa a chama da verdade. O livro “O Espelho dos Mártires”, escrito
durante o período da Reforma por um anabatista, salienta a continuidade da
verdade em meio a muitas provações e perseguições.
Durante a Reforma, os anabatistas apareceram
em diversos lugares. Enquanto Lutero e Calvino faziam a Reforma em lugares
específicos, os anabatistas apareciam em grande número em vários lugares, o que
levou os historiadores mais atentos a reconhecer que eles não eram originários
da Reforma, embora tivessem ganhado impulso com ela. A Reforma produziu novos
líderes para os anabatistas. Alunos do reformador suíço Zuínglio romperam com
ele e aceitaram as convicções anabatistas, tornando-s seus grandes líderes no
século XVI. O mesmo aconteceu em outros lugares.
É
importante aqui salientar que não se deve confundir os anabatistas com os
“espiritualistas exaltados” que surgiram durante a Reforma. Esses últimos são
fruto da crise européia do século XVI. Muitos reformadores quiseram associar os
anabatistas com os “espiritualistas”, mas o fizeram equivocadamente. Os
primeiros eram pacifistas e os segundos eram revolucionários.
Os anabatistas existem até hoje. A Igreja
Batista Renovada Moriá é anabatista. Nem todos os batistas são anabatistas. Há
um amplo movimento batista procedente do calvinismo puritano inglês. Os
anabatistas distinguem-se deles por não aceitarem qualquer aproximação entre a
igreja (ou os crentes individuais) e a política partidária.
Olá Pr. Glauco, qual a fonte desse texto?
ResponderExcluirÉ de autoria do Pr. Glauco
ExcluirO texto foi escrito por mim, Pr Glauco. As informações são fruto de várias leituras ao longo de anos.
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