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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O ANTIGO QUE PERMANECE NOVO: PENTECOSTE OU MISTÉRIO?


       “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.” (I Cor. 12: 1, 2)

            O apóstolo Paulo procura explicar aos irmãos de Corinto que não devem se comportar com os dons espirituais da mesma forma como se comportavam em relação às manifestações demoníacas que acompanhavam o culto aos ídolos. Paulo explica que, no tempo em que eram pagãos, eles tinham manifestações “conforme eram guiados”, pois ficavam fora de si.

            Documentos antigos registram que os pagãos sapateavam em seus cultos (II Reis 18: 26), bem como chiavam com a boca e os dentes (Isaías 8: 19, 20). Alguns em Corinto queriam expressar seu entusiasmo espiritual reproduzindo cenas que antes lhes eram comuns como pagãos. Paulo os repreendeu com veemência (I Cor. 12: 1, 2)

            O Rev. Robert McAlister contava um testemunho importante acerca de uma irmã que saíra do espiritismo, a qual depois escreveu de seu próprio punho a sua autobiografia espiritual. Ela havia se “convertido” do baixo espiritismo, mas não queria perder a preeminência que tinha nos terreiros. Começou, então, a reproduzir as manifestações da macumba com “roupagem evangélica”. Atraiu vários admiradores e rivalizou em autoridade com o pastor. Depois, sob a orientação do Dr. Robert McAlister, ela reconheceu seu erro, teve uma genuína conversão e foi buscar as verdadeiras manifestações espirituais.

            Há certas expressões do que chamam de “mistérios” que parecem manifestações de macumba. Acredito que ex-macumbeiros reproduziram essas manifestações no interior de templos pentecostais e alguns resolveram imita-los para prejuízo do evangelho.

            Eu me inquieto com a própria expressão “mistério” (= oculto, esotérico). Segundo a Bíblia, Deus só permanece misterioso ao incrédulo pela sua dureza e ao crente pela sua incompletude espiritual. Deus tem prazer em revelar-se. Jesus exultou por aquilo que o Pai revelara aos pequeninos. Na testa da Babilônia, a falsa religião, está escrita a palavra MISTÉRIO, conforme os registros do livro do Apocalipse.

            É verdade que a Bíblia fala de pessoas que dançaram na presença do Senhor como Davi (II Samuel 6: 14, 16; I Crônicas 15: 29), Miriã (Êxodo 15: 20) e um coxo que foi curado (Atos 3: 8), mas examinemos o contexto. Em primeiro lugar, eles não foram “tomados” pelo Espírito, mas se alegraram por um fato específico: Davi pelo regresso da arca do Senhor, Miriã pela travessia do mar Vermelho, o coxo pela cura obtida. Eles não sapatearam como se estivessem fora de si num ritual estranho. Qualquer pessoa que os vissem perceberia em seus pulos uma manifestação natural de alegria. A diferença entre eles e quem passou no vestibular não estava na expressão externa, mas no motivo interno. Davi não dançou com as “forças do Senhor”, mas com “suas forças” (II Samuel 6: 14). Tanto é verdade que a alegria de Davi era consciente que ele tocava enquanto dançava (I Crônicas 15: 29), assim Miriã o fez (Êxodo 15: 20). O coxo, por outro lado, saltava como prova de sua cura. Ele entrou no templo para que todos o vissem curado e louvou a Deus enquanto andava e saltava (Atos 2: 8). A alegria interior era divina, mas a expressão era humana.

            O Espírito Santo respeita nossa personalidade. Atua conosco. Quando falamos em línguas, somos nós que começamos a falar, pois o Espírito apenas nos concede  que falemos (Atos 2: 4). Paulo diz que “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (I Cor. 14: 32).

            A Bíblia é clara e por ela devemos nos guiar. Nossa regra de fé não é a experiência, seja ela a nossa ou a de outros. Se buscarmos as coisas espirituais fora dos limites da Palavra, o diabo nos enganará.

            Na carta a IGREJA de Tiatira, Jesus disse algo que jamais esperaríamos ser dito a uma igreja:

“Mas eu vos digo a vós e aos restantes que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina e não conheceram, como dizem, as profundezas (= mistérios) de Satanás, que carga vos não porei.” (Apocalipse 2: 24).

            Conheci muitos homens de Deus. Entre eles, eu gostaria de mencionar três. O primeiro foi o Pr. Robert McAlister. No meu singelo juízo, acho que ele fez muitas concessões aos que estavam errados quando ficou muito famoso. No final da vida, ele reparou isso. O fato, porém, é que nunca perdeu o bom senso nas coisas do Espírito. Esse canadense foi considerado um dos maiores eruditos pentecostais, foi respeitado mundialmente. Seus familiares participaram do avivamento Azusa, o berço do pentecostalismo moderno. Ele participou da expulsão de demônios de uma jovem nas Filipinas que foi o caso mais noticiado em todo o mundo. Veio ao Brasil através de uma visão (a única que teve). Nela, Jesus lhe ordenou que deixasse tudo e viesse para o Brasil. Preguei muito em sua igreja antes da sua morte. Também preguei poucos meses após sua morte para mais de duas mil pessoas que foram por ele lideradas. Naquela oportunidade, procurei falar sobre o Deus da consolação. Lembro-me daquela multidão se levantar em lágrimas para glorificar a Deus. O Dr. McAlister nunca aceitou os tais “mistérios”, mas os atacava em suas pregações. Eu o vi pessoalmente repreender uma pessoa que quis entrar no “mistério” na hora do culto. E nós estamos falando de um homem que noticiou cem curas físicas em um único culto.

            Outro homem de Deus foi o Pr. Marciano. Ele foi cooperador direto do Pr. Manoel de Melo. Esse último, conhecido pelas curas miraculosas, foi objeto de pesquisas dos norte-americanos e até o papa quis ouvi-lo em Roma. O Pr. Manoel de Melo em seu tempo áureo foi o maior fenômeno pentecostal do Brasil. Seu ministério tornou-se notório a partir de um dia em que ele resolveu jejuar sozinho em um quarto trancado. Lá, ele teve uma visão. O Pr. Marciano fazia questão de me dizer que ele noticiava que fora a única visão que tivera em toda a vida. O Pr. Marciano, por sua vez, foi usado na cura de várias pessoas. Ele me dizia que o Pr. Manoel de Melo, extremamente moderado, não cria em sapateados esquisitos.

            O terceiro homem de Deus foi o irmão Saldanha. Também foi chamado em visão (só teve uma) para pregar nas praças. Quando chamado para ser pastor, recusava, alegando que fora chamado para ser pastor nas praças. Sobre ele, poderia contar muitas histórias, tanto eu como o Pr. Marciano (que está na glória). Contarei apenas uma. A esposa de um pastor metodista (eu a conheci pessoalmente) chorava na praça por portar lepra. O irmão Saldanha disse-lhe algumas palavras e mandou ela ir para casa, afirmando que estava curada. Encontrei-me com ela muitos anos depois do acontecido (o irmão Saldanha já tinha partido). Ela ainda estava pasma com o milagre. Sobre os “mistérios”, entretanto, o irmão Saldanha dizia que era “molecagem”.

            A história de Moriá está marcada por profecias, palavras do conhecimento, curas, etc. Já vi cego ver na hora, surdo-mudo ouvir e falar na hora, já vi paralítico andar e muito mais, mas nunca acreditei nos “mistérios”.

            Tenhamos aqui cuidado para não errar. Pensemos como a Bíblia e como os genuínos homens de Deus!


Pr. Glauco B. M. Filho

2 comentários:

  1. Estimado pr. Glauco, estou maravilhado com esse artigo. Louvado seja Deus por sua vida e ministério, que me inspira a seguir seu exemplo. Anseio por ter histórias tão gloriosas para contar um dia!

    Ir. Derlan

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